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Hermes Vigne

Blog do historiador, escritor e professor gaúcho Hermes Vigne, autor de livros como "Trindade do Sul da Serra do Lobo", "Na Vida Tudo é Poesia" e "Belas Histórias Que Papai Contava".

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Hermes Vigne#

Nascido em 9 de janeiro de 1940 em Liberato Salzano - RS, o historiador, escritor e professor Hermes Vigne é autor de vários livros, entre eles "Na Vida Tudo é Poesia", "Belas Histórias Que Papai Contava" e "Trindade do Sul da Serra do Lobo", este último dedicado a contar a história de Trindade do Sul - RS, que o historiador acompanhou desde sua fundação.
Hermes Vigne reside e trabalha, atualmente, como professor, em Trindade do Sul - RS.


  1. Início
  2. Artigos
  3. História e tradição
  4. Entre Recordações e Emoções

Entre Recordações e Emoções#

🔀
Era dia de São João, 24 de junho, sem entender por quais desígnios, encontrava-me muito próximo ao local onde nasci e passei minha infância. Havia saído de lá há mais de 50 anos. Um grupo de pessoas estava aos arredores da casa, outros dentro de casa. Ao chegar imaginei haver, entre o grupo, muitos conhecidos. Passei a cumprimentá-los um a um, estendendo a mão para poder melhor identificá-los. Entre eles, identifiquei um colega de aulas, quatro companheiros caçadores de estilingue (bodoque), de brinquedos com carrinhos de pau e furtadores de melancias, bananas e uva. Outros mais descendentes de familiares conhecidos e até parentes. Entrei, dirigi-me à urna onde estava sendo velada uma amiga, desde minha infância; o motivo que nos conduziu até lá.

Prestada minha homenagem espiritual, sai ao sol onde estava o maior grupo de pessoas. Enquanto conversava com uns e outros presentes, senti um choque esquisito. Sem saber porque e d’onde veio isto, voltei ao passado. Lembrei e vi (invisivelmente) todos os vizinhos e amigos de outros tempos, mas a maioria não estava mais aí. O local da residência onde vivi minha infância ficava a menos de 200 metros. Não me contive. Segui por uma pequena picada, passei a sanga. Lá não estava mais a tábua onde mamãe e minhas irmãs lavavam roupa. A fonte ao lado, coberta de cipós. Subi até onde fora plantado meu berço. Nem um vestígio da casa. Olhei os dois pés de amoreiras, também não estavam. Virei a direção do olhar para ver as bergamoteiras, as laranjeiras, os pessegueiros; nada vi. Fui para junto do local onde estava a casa. Procurei pelo toco de uma imponente árvore ode fora enterrado meu umbigo, e tempo depois um pedaço do meu polegar direito que eu mesmo decepei com um golpe de faca ao querer cortar uma abóbora . . . Próximo, ou junto ao toco que desaparecera, ainda está um pé de ameixas de inverno, velho, feio, doente, mas ainda com sinais de vida; alguns galhos verdes saindo do tronco. O mesmo pé de ameixas do qual entrava um galho pela janela da sala quando estivesse aberta. Dele e dela (galho e janela) colhi frutas sem sair de casa. Recordar é bom, é útil, mas é triste.

Num átimo, exclamei comigo: poxa! Estou em meio ao mato! E mais que depressa tomei rumo à casa vizinha onde o ministro da Eucaristia estava convidando o povo para uma breve prece e despedida, ao corpo da falecida. Feitas as cerimônias e, como o enterro seria na cidade, cinco quilômetros de chão, foi carregado o féretro e o rabecão partiu à frente dos demais acompanhantes. Como saiam sem pressa, continuei olhando e recordando de algo que havia e que ainda restava. Vendo umas lindas bergamotas ao lado de um arame velho entre cipós, quis colher umas. Quando voltei não havia mais carros ali. Mesmo assim ainda contemplei a casa, com todas as portas fechadas, da qual saíra a última pessoa da casa, que ali residiu por mais de 80 anos.

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