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Hermes Vigne

Blog do historiador, escritor e professor gaúcho Hermes Vigne, autor de livros como "Trindade do Sul da Serra do Lobo", "Na Vida Tudo é Poesia" e "Belas Histórias Que Papai Contava".

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Hermes Vigne#

Nascido em 9 de janeiro de 1940 em Liberato Salzano - RS, o historiador, escritor e professor Hermes Vigne é autor de vários livros, entre eles "Na Vida Tudo é Poesia", "Belas Histórias Que Papai Contava" e "Trindade do Sul da Serra do Lobo", este último dedicado a contar a história de Trindade do Sul - RS, que o historiador acompanhou desde sua fundação.
Hermes Vigne reside e trabalha, atualmente, como professor, em Trindade do Sul - RS.


  1. Início
  2. Artigos
  3. História e tradição
  4. Identidade Ítalo-Brasileira

Identidade Ítalo-Brasileira#

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É forte e vivo o italiano que está em mim! Nasci há há quase 70 anos, no mato, junto às cinzas do fogolaro, vizinhando com outras quatro famílias italianas, num raio de 1500 metros. Até os 8 anos, meu mundo italiano era do tamanho de uma fazendola, onde todos éramos iguais. Ninguém era mais, nem tinha mais, a não ser irmãos e filhos. Todos falávamos talian. Apenas os pais (as mães, nem todas) falavam português, quando necessário.
Nosso mundo era um pequeno paraíso, com o aroma verde das matas, frutas e pássaros. O rio, onde se viam os peixes bailando, com seus poços onde tomávamos banho! Os vizinhos nas lavouras, ao lado do morro, cantando e gritando, como a dizer:
– Vejam! Nós estamos aqui!
Quando o calendário amanhecia vermelho, aumentava a alegria. Era só tratar os animais e depois receber ou fazer visitas, juntar-se a parentes e vizinhos, e festejar! A festa nos entretinha na caça, con la fionda e le tràpole; na pescaria, com anzol ou caniço; nas corridas dos carrinhos de lomba, urtanado su par la riva, e dopo zoooo! Robe de spacarse le onge, sbregar le braghe e anca le culate; na colheita de frutas silvestres. Outras brincadeiras eram reservadas aos filòs, no pátio, ao luar, ou em casa nas noites escuras ou frias. Brincadeiras que hoje seriam ridículas:
– Ai, bai, come stai...; la bìbola-bòbola; la vècia crepa; el soto caval e le ingiuvinele...
Mas, como tudo muda, meu paraíso também mudou. Com a proibição de falar línguas estrangeiras quase virou um purgatório. Devíamos estar sempre atentos; caso chegasse o comissário, que morava a oito kms, devíamos nos esconder. Os pais temiam que nós falássemos o talian e eles seriam punidos e presos por não nos ensinar o português.
Aos nove anos, finda a guerra, fui mandado à escola.
Aí também me sentia fora do paraíso! Na aula era proibido falar o talian, e eu entendia 20% de português, e falava apenas 5%. Não fazia perguntas para evitar o risco de errar e ser gozado pelos que sabiam mais. Mas, aos poucos, fiz amizades com colegas de outros mundos, que também falavam o italiano. No recreio, aos poucos, fui sendo aceito, e, a certa altura, todos falávamos o talian, às vezes também na aula, aos xingões e sorrisos disfarçados da professora que, fora da aula, comungava conosco.
Rio de mim mesmo, e comento com os filhos e amigos, recordando expressões mal ouvidas ou mal entendidas, ao tentarmos falar português. São inesquecíveis as seguintes expressões:
– Corra, que a choca te beca!
– Mãe, o pão já ta inchado.
– Deixa que eo do um coxo (coice).
– A vaca foi lá no formento e comeu um toco de chi a la oltra! Seguidamente, papai, em casa, quando ninguém falava, dizia, com seriedade:
– Alora, ciò, doman ndemo, vera? Se perguntássemos – Ndemo ndove? – respondia:
– Ndemo in Itàlia, nò!
A Itália era, para ele, um grande sonho, um pedaço do paraíso! Exímio contador de divertidas histórias em talian, o pai era nosso passatempo nas noites de inverno, com histórias que me tocaram tanto, que acabei de escrever algumas na obra Bele stòrie che’l pupà conteva, em talian e português.
Foi esta comunicação de vida e cultura que me deleita nas leituras de livros, do Correio Riograndense, da Revista Insieme, do Messagero di San’antonio...
Professor aposentado, dedicome a escrever, apresentar programas de rádio em talian, e ensinar talian e italiano a crianças e adultos interessados, nel mio piccolo mondo - Trindade do Sul

Fonte: Revista Insieme

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